Na manhã desta quinta-feira, visitamos a Cooperativa CERMISSÕES, quando fomos recebidos pelo presidente,

Diamantino Marquês.

     A oportunidade que vinha se alargando para nosso desconforto, desta tomamos a decisão de matar a saudade do amigo e saber como vão as coisas na nossa cooperativa.
Sabemos e é claro, que o presidente fora reeleito por unanimidade, por justa causa, para ficar a frente desta grande empresa pelo período de mais quatro anos.
Encontramo-lo bem. Muito bem. De saúde, de tudo.. Mas preocupado com algo que tem estressado “todo mundo” que vive por aqui que é a questão da seca; e seus efeitos.
Não é o primeiro ano, consecutivo e as consequências são sim, graves.
Para a empresa que opera também como produtora de energia e depende da água, o dano então… é imenso. São três unidades paradas há meses e, nem se sabe quando é que voltarão a operar.  Pela falta d’agua.
Imaginem o angú, caso a empresa não se encontrasse devidamente organizada e… capitalizada.
Na companhia do engenheiro agrônomo, Jeam, da Agro Brasil, matei a saudades da minha lenda, que certamente é a de muitos pelo histórico construído, pelo quanto temos que respeitar esta figura que é o presidente desta empresa e, que a bem se lembre, é responsável pelo sustento de centenas de famílias e por arcar com parte tão importante para o desenvolvimento da região – a energia -, feito por nossa Cooperativa.
Alguns fatos vieram à luz na forma de lembrança, como o daquele que “foi pego” no alto do poste, se fartando de fios, com risco alto de morte e que no dia seguinte a polícia levou ele de volta para sua morada e onde não poderia mais continuar a subir nos postes por algum tempo.
Trocamos ideias, ouvimos o presidente, suas preocupações, sua tranquilidade apesar de tudo, possível graças a provas de méritos expostos logo no portal de entrada e que deu o título tão largo e importante de ser a empresa considerada a melhor do Brasil por várias e várias vezes.
Mas, sempre que visitamos o presidente, que confesso, também tem a parte emotiva, de humanos como ainda somos, eis que me resgata em minha mais lapidada mente pelo covid 19, ao falar da água, da escassez da água e, quando a meu pedido, sugeri que tirássemos uma foto. -Vamos encolher a barriga!. Lembrei, como se precisasse para mais alguém e esforço que tenho feito sempre que me imagino visto aí, nas mídias do Liberdade.
Diamantino mal suspirou e me deu a entender que ele ainda não precisaria. Nem o Jean.
Mas o lapso me trouxe a memória, carregada com a alegada lembrança da falta d’agua que, em certa ocasião, aqui em São Miguel, um ilustre e outro amigo, Bernardino, me contara que no passado e que não vai lá assim tão distante, alguns comerciantes traziam a melhor farinha – a cemolina -, lá das bandas da Argentina e, quando ao tentar fazer o cruzo também no Ijuí, ao se deparar com a polícia, obrigava o barqueiro a jogar os sacos da dita cuja para dentro do rio.
A farinha cemolina, marca famosa, era trazida a dedo para os fazendeiros daqui que procuravam ter algo melhor que a quirera preta possível localmente.
Então que, nas noites as mais escuras, a melhor ocasião para transpassar os pacotes de sal, da farinha e de alguma outra “coisita” para os moradores mais abastados ou bolichos de cá, acontecia o risco de se perder toda a farinha, produto mais desejado daqueles tempos.
O sal e os demais, não tinha saída. Se pegos, teriam que entregar.
Assim, quando o fato acontecia, de a polícia bater e dar uns avisos no estrondo de um 44, imediatamente o barqueiro jogava da canoa os enormes sacos de farinha para dentro d’agua.
Superado o evento, na madrugada seguinte, lá vinha o barqueiro com o menino Bernardino que, na época e nos conta ele, tinha menos de 9 anos e, um “guri dos Marquês”. Não lembrava mais o nome do parceiro.
Conhecedor como poucos das manhas do rio, o barqueiro quando próximo onde sabia ter atirado as bolsas, passava a mão pra cima de um dos tornozelo do branquelo, miudinho e o lançava a toda a força ha uns 8 metros de altura, de onde o vivente descia com as mãos postas para cortar a água, exatamente naquele lugar onde teria sido desovado parte da preciosa carga.
Era o guri cair e, desaparecia imediatamente.
Alguns poucos minutos depois, ainda no escuro do quase alvorecer, vinha o “piá dos Marquês” a apontar com o dedo o local que teria localizado a preciosidade.
Era a vez de o outro, aí nem voar pois, o barqueiro aproximava e o Bernardino se lançava ele, nú como veio ao mundo, para o fundo do Ijuí.
Seguia o rumo do barbante já preso pelo colega que sabia como pouco amarrar na orelha da bolsa para que pudesse ser puxada outra vez pra cima.
Lá no fundo, o outro que também era um peixe e bem mais atarraxado que o “clarinho”, atava no tornozelo a ponta do barbante e, se debatendo feito cachorrinho tentando se salvar de um mar de água, arrastava o saco em direção a canoa.
Assim, um a um as bolsas eram resgatadas e só se perdia a casque formava imediatamente tão logo a farinha batesse n’agua, exercendo a função de isolante e salvando a maioria da carga.
Deste amor pelo rio teria nascido a ideia de um dia voltar a lidar com ele, outra vez. Coisas que – explica o miguelino, Bernardino, a gente sempre vai carregar na alma.
Depois, mais adiante, teriam importando um tal moinho e a farinha daqui mesmo já estava melhorando tanto que o risco passou a não mais compensar.

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