Na live desta semana o LOJ trouxe um resgate de um pouco da história do evento aconteceido em 1977 aqui em São Miguel das Missões.
A live semanal do Liberdade que vai ao ar na página no facebook, Guia LOJ, as 20h20min todas as segundas feiras, desta, trouxe um pouco dos eventos que envolveram a comunidade do município e da região de forma extraordinária e que nunca antes, nem depois se vira algo semelhante.
Claro, a vinda de um dos maiores ternores do mundo para as Missões localizadas aqui, ao Sul do país foi também algo extraordinário.
Por iniciativa maior do governador do Estado, Antônio Brito, ex-repórter da Globo, Brito entendia que era hora de trazer ao povo, ao interior do município inclusive, uma amostra do que seria realmente belo, digno de ser apreciado, algo capaz de dar um ‘up’ no atraso cultural do nosso povo, gaúcho como um todo. E, para isso, concluiu que as Missões nossa por conter um Patrimônio Cultural com o título de reconhecimento pela própria UNESCO, seria o local ideal aqui no Estado e, o próprio público, bem interiorano, seria o melhor local para a mostra que queria passar à sociedade gaúcha como um todo.
Por parte do tenor, do espectáculo, embora não tenha juntado pelo menos além dos 25%, 30% do público esperado, foi lindo, belo e inesquecível para quem conseguiu, de alguma forma, adentrar o local fechado por tela da parte central do sitio arqueológico aqui em São Miguel das Missões.
Assim, com alguns políticos no próprio município embalados pelos imaginados por eles, efeitos do Turismo e, com a vinda da toda poderosa Rede Globo de Televisão para a cobertura do evento, São Miguel das Missões viveu momentos de perplexidade para pelo menos a metade da sua própria população e, por efeito, à margem também.
Assim, toda uma infraestrutura também começou a ser montada ou implementada na cidade como rede elétrica para o local de estacionamento de veículos, banheiros, serviços públicos diversos ampliados, enfim, uma mobilidade e esforço inéditos tanto do poder público do município, quanto da sociedade local e regional.
Se a vinda do gabinete do Estado para o município já causava um certo alvoroço, mais a vinda da televisão com todo o seu aparato, divulgando um imaginado explendor do evento que se avizinhava e a cobertura a época de jornais e rádio da região – O Liberdade ainda não existia -, induzindo a população ao impacto que imaginadamente passaria, sem críticas aquela altura imaginada que nem tudo poderia ser conforme o ora sendo descrito e alardeado, o povo “saiu das botas” na fé de que suas vidas seria dividida em “antes do espetáculo Carreras nas Missões (ACM)” e, “depois de Carreras nas Missões (DCM)”.
Assim foi que, desde as cidades próximas pessoas se lançaram a fazer empréstimos em bancos, vender seus veículos, pedir dinheiro emprestado ou usar os que tivessem disponíveis para poderem comprar algo que os permitissem não tanto vir ver e ouvir o fenômeno Carreras, mas tirar algum resultado financeiro que os permitisse aproveitar a “dexa” com os próprios locais, os miguelinos, e vir levar daí o resultado financeiro para a paga dos custos que tivera e o lucro certo e fácil que teriam antes e durante o evento.
Na cidade – e isso são fragmentos de relatos contados por quem viveu aqueles momentos -, traduzidos por nós que nem participamos meditadamente dele e nem nos fizemos presentes embora morássemos no interior no mesmo município.
Então que o povo urbano, ensandecido pelo que via – o trânsito igual a Porto Alegre -, embora muitos deles nem sequer saibam para que lado fica esta ou se no Brasil ou não, nestes inedetismos que passa a ser reclamada, a oportunidade para a grande maioria seria a obtenção do pão e, não da cultura imaginada pelo “play boy” global e agora governador ou pelo estrelado dos seduzidos (e safados) políticos daqui, também ingenuamente à ópoca, encantados com o maravilhosismo por eles imaginado em suas mentes já alteradas.
Assim que entre as manifestações efusivas nas velhas rádios politiqueiras e jornais sensacionalistas, figuras se revezavam incentivando o povo a “aproveitarem o momento” e, de alguma forma deixarem se envolver no que aconteceria e era certo, aqui em São Miguel das Missões.
Na cidade, “um mar” de “truviscos” foi sendo montado, um ao lado do outro onde cada qual – local ou visitante – que fosse chegando para montar “o seu negócio”.
De ambos os lados da rua, madeiras, papelão, lonas plásticas, potes com água, caixa de gelo em isopor, doces, salgados e nem tanto, iam disputando espaço para …. afinal, segundo o que lhes fora dito ou era divulgado nas midias à época, “os Turistas” desceriam de seus veículos – carros, ônibus, vans… – no local antes de uma antiga empresa, a Cooperativa Cotrisa e onde fora construída toda uma extensa e larga malha de eletrificação, aberto ruas para o estacionamento dos mesmos – porque não haveria espaço para tanto mesmo nas largas ruas centrais e campos abertos adjacentes o suficiente da demanda – e, a partir daí, forçados, os visitantes iriam caminhando até a entrada do Sitio, há cerca de 600, 800 metros aproximadamente na entrada à área fechada do santuário.
Nos Postos de Saúde, a ansiedade era visível.
Na cidade, pessoas alteraram quartos, compraram camas e panos para as mesmas para melhor receber e alugar para os Turistas, outros alugaram casas para fazer uso e tirar algum resultado, empresas vieram e se estabeleceram em São Miguel das Missões pensando tirar no evento o resultado que serviria de alento para aí até continuarem, restaurantes foram abertos e comidas “típicas, como churrasco e, outras inéditas com ‘produtos da terra’ foram as pressas desenvolvidas, enfim, creiam, a descrição não poderia se aproximar além de um mínimo – por falta de dados e o passar do tempo, a falta até de registros daqueles momentos, além dos poucos que já insinuam alguma coragem e contar os fragmentos do que lembram do famoso evento.
Nestes e destes, ouvimos dos participantes que um deles, seu patrão secara um enorme açude para aí vender os peixes que se acumulavam nas bacias ao largo e próximo ao espetáculo, com centenas de pedaços já fritos e dispostos sobre o balcão e em local nobre e que ele próprio, o cuidador e seus colaboradores cada qual comeram um pedaço dos peixes e deram um, de presente, a um a frente e extasiado.
Outro, com a família, resolvera aproveitar as louças novas, de porcelanato recêm adquirido e experimentar um dos pratos inéditos, com produtos da terra e após, terem lavado o chão da própria casa, saindo tudo amarelo e brigando por banheiro que, na casa só tinha um.
Um outro, teria lotado um enorme salão, de cerveja e pão seven boys e acabou alimentando uma porcada que tinha por mais de semana a ponto de os mesmos quase aprenderem o nome da iguaria quando lá vinha ele com braçadas do produto americanizado.
Também um outro – conta-nos – pagou R$ 200, oo uma fortuna à época para expor sua quitando a frente de uma loja local e, por fim acabara ele próprio se embebedando e deixando lá o que não conseguira consumir, e no comércio àquele que confiara os produtos a ele, na mão.
Muitos, nas lojas, restaram endividados por terem comprado louças, roupas de cama, enfim, toda parafernália para melhorar suas casas, que seriam ocupadas pelos Turistas por ocasião do evento.
Também teve um outro que montara uma padaria e, lotado de pães, massa pronta e a família toda envolvida, não vendera além de uma dezena de pães no momento mais forte do evento.
Um outro relata que contratou caminhões, refrigerados, para manter disponivel os produtos que abasteceria no momento de anormalidade aos seus inusitados e recentes clientes que ja se acumulavam a frente de seu negócio e nas redondezas.
E a propaganda não cessava e, as midias se alargavam no gritedo.
E o povo, á época pouco habituados aos banheiros químicos, trocavam os mesmos pela claridade insuficiente atrás das quitandas que agora povoavam as ruas.
Também ouvimos de empresários que apreciaram este momento histórico em São Miguel, de terem adquirido até centenas de caixas de refrigerantes, imaginando faltar e inflacionar os preços, podendo assim auferirem algum lucro, bem como outros que abarrotaram, cada qual seguindo seu instinto e motivação, os mercados em cidades vizinhas se abastecendo do imaginado em e de produtos que seriam confundidos como “da terra” e que seria comprado vorazmente pelos visitantes turistas.
Também rendeiras se lançaram ao fabrico de nós em linhas, artistas afinavam a voz e arranhavam instrumentos caso requisitados pelos visitantes e mesmo que não o fossem, se aparentariam para mostrar a eles o seu orgulho por morar em sua linda terra e, mais, amostrar as suas potencialidades em um mercado potencial tão inusitado e especial.
As margens da rodovia que liga uma principal a cidade, agricultores e vendedores ambulantes ou transformados montaram barracas, com licores, docinhos e rapaduras para abastecer os transeuntes que, em fila, puxados até por cavalo, a certa altura viam se deslocarem para São Miguel onde hidratariam ao povo que estaria por vir e que consumiria a tudo que eventualmente se apresentassem a suas frentes.
Assim, em chegando os dias finais do evento, a pequena área urbana do município se transformara.
Não só políticos se revezavam, cada qual querendo aparecer e aproveitar mais o momento, atropelando inclusive aos menores locais, assim como as ruas que dão acesso a cidade foi sendo tomada pelo movimento em direção a mesma com o propósito mais de explorar o inédito e a frente novo mercado, mas claro, ver e apreciar o show do tenor José Carreras, agora aí, nas Missões ao Sul do Brasil.
Assim foi que ainda na noite e expoente máximo – nos relata um dos apreciadores do evento -, caiu uma rara chuva, um chuvisco, como e prenúncio da noite que outra vez mas de forma diferente, se aproximava. E na longa Avenida Borges do Canto, já seca pela escassa água e pelo trânsito intenso, eram os veículos que por ela transitavam buscando espaço entre os vendedores de tudo, rumando sobre rodas em direção ao Sitio.
Dos caminhantes…. Deus, muito poucos, aí.
Contam que a noite passou e quem viu o espetáculo, reprisado em imagens pela rede globo durante toda a semana seguinte, em sua forma grandiosa e linda como nunca deixaria de ser pela qualidade do que apresentou.
Agora, ao lado de fora da tela, credores e vendedores meio que desesperados, juntavam o que estavam ainda dispostos a levarem de volta e começavam no atropelo a retomar o caminho de volta ou, para suas casas. Muitos, deixando atrás de si um rastro enorme de compromissos recém assumidos e agora que seriam negados, na ânsia de compartilhar com alguém a imensa frustração em que se viram envolvidos.
No dia seguinte, as ruas sendo limpas ou saqueadas pelos proprietários dos produtos que seriam vendidos por seus recém clientes e que deixaram para si um tanto da dor, de suas irresponsabilidades e dos efeitos do golpe duro que sofreram ao levar para casa não o pão, tão necessário, mas os sonhos tão acalentados e tão abruptamente interrompidos, sem terem ninguém para ecoar suas dores nos dias e semanas seguintes durante a recuperação possível do violento trauma por que passaram.
De bom, onde o estelionato social, de tanto, hoje já é cultura reclamada, daquilo ficou de bom além do espetáculo assistido não por aqueles que o Britto imaginava ver transformados,pela evolução da sua cultura, mas o fato de José Carreras ter doado todo o seu cachê para hospitais dedicados ao combate ao câncer.