A tarde corria quente e o sol antes a pino lutava contra as nuvens para expor seus últimos reflexos queimando a pampa.
No horizonte, em um dos lados, só ele e a monstruosidade dos cuneiformes azulados cortado vez por outra por riscos de um fogo que nunca se via a origem.
No couro, a mosquitada a se deliciar e, na cozinha agora aqui perto, a catinga de óleo requentado se fazia presente a medida que os pastéis, a linguiça preparada aí mesmo, iam se acumulando no enorme tacho de onde seriam retirado em números ou em palmos para forrar a pança dos presentes hidratados com o sabor azedo da cerveja barata.
Gases tornavam o ambiente muitas vezes diferente daquele que se poderia buscar quando uma fresta fosse descuidadamente aberta.
Na sala misturas de odores iam de sabão de tripas feito com os miúdos dos bichos mortos aí mesmo com perfumes de hidratar entorno somados com “laquês” para negar o cheiro da falta de banho e lacrar suor que teimavam em forçar sovacos.
O gaiteiro, …. ahh, o gaiteiro, que por sinal tinha dois pois, podia que outra vez um gaiato, emborrachado, teimasse em fazer que nem a outra, digo, o outro arrasta-pés lá do Chico Torto quando incomodado por não ver atendido um pedido seu para que tocassem uma vaneira – a única que pensava saber dançar -, de um taio só da adaga castelhana, quase faz dois do único foles ainda vivo a aquelas alturas.
A partir daí, e desta, se optou por convidar dois. Assim se o imprevisto se repetisse, qualquer dos dois, se bem que o menor até ainda melhor, poderia dar continuidade ao namoro e as promessas para os sogros que, para mostrar jovialidade e contentamento, se atiravam feito destravados a rebolar pela sala.
*Agropecuária Stöffels; Relojoaria e Ótica Topázio; Floriculttura Canto Verde e Ferraria e Funilaria Fengler prestigiam nossas comunidades…
Claro, sem não antes deixar a mesa farta com especiarias – um grande e já comido em parte pedaço de bolo tapado de merengue; uma generosa penca de salames, banhoso, feito da pura carne de porco, um bom pedaço de cuca com recheio de cor pra ser chocolate e, ainda, um punhado de guloseimas, na forma de balas para adoçar os lábios da prenda nova que ora se tornava a paixão e futura vítima do filho e, porque não da família, já que a roça, toda, era considerada de propriedade de todos.
Ahh, ia esquecendo, de na mesa umas poucas garrafas de tubaína já meio pela metade com sabor de laranha ou …………… sempre mais do que uma para indicar fartura.
De álcool, vez que outra uma que era consumida rapidamente, não só pelo preço, alto, mas para indicar que na família não existiam bêbados.
Entre coças em virilhas para ajeitar as coisas, nos sovacos para acomodar a queima do álcool desinfetante, levava o moço a trocar as coxas de posição a outra para não denunciar o fedor da creolina que lutava para eliminar uma unha encravada, agora ali apertada na bota nova comprada por seu pai por ocasião do seu casamento há cerca de 28, 30 anos atrás.
O velho, a cada pouco, pouco habituado em largar os gases ou até fazer as outras, necessidades em espaço tão apertados quanto à casinha tão disputada e podre ali fora, buscava um barbal de bodes na vizinhança onde disfarçadamente ia medindo distância para largar o que agora precisava tanto e esgotar o vídro de uma de pura que escondia no longo bolso da bombacha.
Mas, na mesa entre valseados e vaneiras, a sogra era a expressão de felicidades.
Com os lábios a luz pelo peso do batom, sorria só de um lado para não mostrar uma das porteiras, mostrando delicadeza em igual à vítima, digo, à nora, para vender melhor a imagem de fartura e de bom entendimento no seio familiar, o seu, certamente, em muito breve já que Juvenal, escornado aí do lado, parecia um lobo querendo como nunca que a futura lava-trapos da casa, agora, sustentasse ao menos uma de suas pernas. E, Deus, que perna… diria a moça, comovida. Se faltasse algo, pensava a prenda, linda como só e tanto que com três meses aprendera caminhar por ninguém pegá-la no colo, de puro medo.
Assim o clima era de delicadeza ao redor do templo.
No palco erguido na tábua sobre troncos, os gaiteiros não se faziam de rogados e aproximavam coração.
Juvêncio que, fazia questão de também mostrar fartura, a cada pedido de tubaína, pastel ou fosse lá o que fosse, fazia questão de puxar o maço todo, do bolso, para tirar dúvidas que o que não faltava no rancho era riquezas. E, em uma daquelas…
-E, aí, Juvêncio velho, quanto tempo, gritou alguém que já arrastava uma cadeira ao lado desocupada em função da dança e assentando-se ao lado da família -, conta aí como tens passado.
Há pouco te vi lá fora, parece que o ranço deste salame te fez mal, vivente, pela quantidade de gazes que soltou deitando o trigo do Piriquito ai do lado, que bá, estás necessitado de um bom purgante?
Juvêncio, pálido como se pudesse fácil mudar de cor, mexe na parelhada acomodada entre os ovos e a lateral da perna, já temia o que viria por diante e responde:
-Pois é, eu resolvi espantar umas mariposas que dizem trazer o pulgão pra planta, mas na verdade me fez mal foi o podrume de um vivente alí ao lado, de cócoras limpando o fétido com o pedaço do pano da camisa que agora esconde dentro da bombacha….
Bem, amigos, para não me alongar no causo, que demandaria horas, a verdade é que as lamparinas teriam sido as primeiras vítimas depois das cadeiras, mesas, todas demolidas e entre pontaços de facas e espetos e até panela de banha quente privavam os pastéis banhando o povo.
No fim do baile, os mais antigos ainda juntam relatos contando que por meses o saloom ainda permanecia sem janelas, a porta, principal e única, repartida em duas, só tinha uma metade a ranger solitária, presa ainda só por uma dobradiça violentada.
Com o tempo, os cavalos quase selvagem depois do abandono pelo entrevero, acabaram encontrando seus donos, afinal, o animal é aquerenciador e, o que demorou um pouco mais foi a reposição de couro, tanto das prendas quanto do macharedo, tudo arrancado por pranchaços de adagas, cadeiraços ou arrancados nas paredes das janelas na fuga precipitada.