Hoje, comemora-se a conquista do título de Patrimônio Cultural da Humanidade, acho

Conquista dos tempos do governo Getúlio quando, algum político sugeriu que se construísse a narrativa que colocaria São Miguel das Missões como candidato ao título acima.
Com a alegação de que aqui teria acontecido uma experiência de comunidade cristã, a mais perfeita e comunista onde todos tinham os mesmos direitos, obrigações semelhantes e coisas do tipo e onde à comunidade trabalhava – quebrando e carregando pedras – feliz e construindo o projeto jesuítico nos cafundós da colônia chamada Brasil.
Assim, milhares de índios, foram aos poucos sendo reduzidos no entorno destes núcleos onde se buscou a construção de verdadeiros fortes que somavam igreja, oficinas, casario, casa das mulheres descasadas ou viúvas, casa de armas, depósito de alimentos, bondades e maldades entre outros.

A utilização de recursos tipo fantasia passou então a ser fundamental na narrativa proposta, a bem que se diga, branca, religiosa e que narra que aí se viveu em um ambiente verdadeiramente humano e cristão a ponto de os nativos carregarem pedras cantando e louvando sem sessar, uma sociedade perfeita.

A ladainha foi levado por cartas e, ou boca a boca para além mar onde lá rendeu opiniões de intelectuais da época – Montesquieu, Voltaire entre outros, que jamais pisaram na América – e que somado a tiras ou palavras com referências coletadas de livros dispersos por todo o canto do vasto território internacional ora sendo ocupado, ajudaram a fortalecer este propósito, a bem que se diga, bastante fantasioso, o de colar aqui a pecha de “experiência realmente cristã, inédita e humanista como só”.
Como tal intento se fortaleceria ainda mais em havendo fatos impactantes, soma-se a estes um outro, da chamada Guerra Guaranítica onde, os indígenas, organizados pelos padres Jesuítas e comandados pelo índio Sepé, se lançam contra àqueles que reclamava o seu território, outra vez buscado manter sob o seu domínio – a região dos 7 povos das Missões.
Mais recentemente se buscou  e se conquistou o título de “herói” ao corregedor, Sepé Tiarajú que, na verdade era mais um ‘pau mandado’ e que por pura ingenuidade, morrera ao lado de ditas centenas, mais de mil de seus próprios companheiros sem sequer abater um só inimigo no campo dito de … batalha.
O que acontece aí  foi sim um claro genocídio, negado, ocultado, não admitido onde, sem morrer sequer um do lado dos exércitos invasores, o líder maior guarani acabou perdendo à vida e, o restante de suas tropas, praticamente dizimados.
Os remanescentes, são obrigados a pegar a mataria, daquele jeito, e o sitio maior – São Miguel das Missões é incendiado.
Após, os jesuítas são expulsos do Brasil e os nativos remanescentes, novamente nas matas e necessitando se readaptarem, resultam cada vez mais em vítimas e, pressionados pela ocupação e interesse dos brancos que já cercavam suas fronteiras, vãos sendo encurralados, caçados e eliminados de todas as formas possíveis.
Da terra sem males ou, terra onde se sentem coisas, poderia se dizer que aí acontecera verdadeiras loucuras, isso sim.
Uma delas foi a morte de três padres, pelos próprios líderes dos agrupamentos nas reduções que, revoltados com o resultado, acabaram sofrendo não menos triste destino que o deles.
Neste contexto de fantasia é que se desenvolve a trama Quem Vem Lá?, do escritor, João Antônio Sartori e que busca motivar um importantíssimo resgate nesta – digamos – trágica história, resgatando o legado da participação solidária, efetiva e importantíssima do homem negro – à época na condição de escravo e herdeiro do mais duro trabalho, da ração mínima para os sustento e da chibata -,na construção física dos sítios missioneiros Enquanto os brancos, impositivos, dominadores e colonialistas, herdavam direitos, terras, confortos e segurança de seus governos de além mar na figura de seus representantes aqui na colônia, como a própria igreja inclusive.
Negados pela fé que profetizavam, os não batizados não eram sequer considerados gente.
Sem paga, sem direitos, úteis apenas quando possível e, assim sendo merecedor do alimento mínimo para manter sua força de trabalho, este povo não era visto, não ocupava espaço nas considerações e algum respeito por parte de seus senhores escravagistas.  Por tal da não citação deles no processo de edificação deste projeto mais político do que religioso nos cafundós do Brasil.
Quem Vem Là?, a obra, uma utopia, traz mais verdades em sua narrativa do que naquela aí implantada como se verdadeira fosse, baseada em fatos dito até reais ( o que se duvida por tantos motivos) e que tem o dom de não só reparar a necessária verdade, mas de legado, ainda, atira para dentro da região missioneira ora citada, a rica herança de sua melhor e maior história, além de dezenas de países, de um continente todo e sua importantíssima história, para dentro da citada região, dita por nós, de “missioneira”, como tantas outras que existiram por aí.
Quem Vem Lá? a obra, com cerca de 300 páginas, Editora MEPE, ocorre em um contexto de um mundo natural, gurani e que depois chegam as primeiras pessoas, de várias cores e nacionalidades. O impacto deste encontro, as crendices, a vida como ela era antes da chegada do homem tecnicista  carregado de culturas estranhas e eficientes em seus próprios propósitos, o inicio da implantação da cultura dominante, seus confortos e seduções e a transformação da vida como ela era até o aparecimento do homem de cor, já intercalado ao silvícola, no esforço de atingir os objetivos daqueles, até há pouco, para os locais ao menos, estranhos.
Findo este ciclo, os então portugueses e espanhóis, ocupantes da maioria dos territórios sendo colonizados, com a chegada dos ditos povos imigrantes, vão rapidamente sendo substituídos por àqueles, mais capazes na arte e domínio da atividade agrícola e passam a ocuparem as áreas urbanizadas onde, em cargos políticos ou atrelados de alguma forma a eles, no comércio, passam a viverem suas vidas, dando lugar a àqueles.
Já os remanescentes dos povos naturais e dos escravos negros, sem eira e nem beira, as margens e nos cantões onde não estorvariam ninguém, vivem após a chamada “libertação” de bicos e do que a natureza lhes possa permitir.
Depois, são os que hidratam outra vez e agora a chamada Revolução Farroupilha e, após, a dita Guerra do Paraguai.

Pacificado este tempo, vão-se ou voltam-se as periferias das cidades onde, até hoje, são justificados por àqueles povos de certa forma progressistas e predadores pois, por onde quer que vão, ou impõem os seus propósitos ou interesses, ou subjugam de alguma forma e até destroem quem ousar a eles se colocar em seus caminhos.

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